Lançado no Halloween (ou se preferir Samhain) de 2016,
o debute da banda pernambucana Elizabethan Walpurga, ‘Walpurgisnacht’ atrai a
curiosidade daqueles que gostam de Metal feito com ousadia e elementos
diferentes entre si, porém unificados pela mesma paixão de se tocar música
pesada. No entanto, a banda que surgiu em 1994 sob o (não menos curioso) nome
Ecumenical Damnantion, lançou as demos ‘…the Darkness… the Wrapping
Tranquillity…’ em 1997 e ‘Desire’ em 2001 e hibernou durante vários anos, até
que chegou 2016 e liberaram juntamente com a banda potiguar Lord Blasphemate um
split de 11 faixas. Cinco das 9 músicas do referido debute, vieram das duas
demos.
Imagine um som que tenha como base o Heavy Metal – melodioso
e Tradicional – e o Black Metal… Provavelmente, o leitor deve ter pensado em
Mercyful Fate, certo? Bom, talvez até tenha exercido alguma influência na
banda, mas o lance do Black Metal não está focado apenas nas letras, mas como
disse, na musicalidade também. Riffs com notas mais altas, constantes e
melódicos, bateria bem captada e de batidas fortes e ritmadas, vocal
predominantemente rasgado, que remete bastante ao Metal Negro dos anos 90,
climatizações sombrias – cortesia também por parte da arte gráfica – e boa
qualidade de áudio: são todos os atributos contidos em um pouco mais de 40
minutos de curiosa audição.
O fato de quem analisa e por conseqüência escreve sobre
algum álbum, é que involuntariamente, no momento que sua memória for cutucada
com algum detalhe que lhe remeta algo que já ouviu, esse fator dificilmente
será esquecido. Lembra do cultuado Mercyful Fate que citei acima? Pois bem,
digo que por vezes, aqui e acolá, durante a audição desse ‘Walpurgisnacht’, o
nome da banda baiana Malefactor, juntamente com o da francesa Misanthrope, me
vieram
a mente… Ou mesmo, quem sabe, a inglesa Cradle of Filth (mais por causa
do estilo de alguns títulos das composições). Bom, isso vai de acordo com cada
um, mas acho que não deixa de ser uma observação interessante.
Observações a parte, felizmente as composições buscam sempre
nos apresentar passagens diferenciadas entre si, sejam com sessões rítmicas
rápidas, guitarras trabalhadas, precisas incursões de baixo e climas obscuros.
Mas lembrem-se: é tudo bem equilibrado entre os dois estilos citados! A essa
altura da partida, é impossível não se sentir aprisionado em temas como
“Vampyre” e seus segundos iniciais totalmente no estilo Metal Tradicional – que
são mantidos ao longo da faixa, porém incrementados com porções do Black -,
“Clamitat Vox Sanguinis” que aparenta ter saído de algum porão sinistro do
underground europeu dos 90 e a empolgante “Infernorium” – que se permite até
algumas levadas “cavalgadas” e um desfecho diferenciado.
Com um título enorme, “The Serpent’s Eyes and the Horns of
Crown” emana uma energia arcana impressionante, e abre caminho em meio a uma
floresta para “The Elizabethan Dark Moon”, que entre as características citadas
acima, exibe a partir de 2′:33” uma curta passagem acústica, com arranjos de
violão simples, mas bastante profundos. Outra com o título extenso é “The
Canine Enchantment by the Phlebotomy (In the Jugular Streams)”, que mantém a
qualidade do disco elevada nos momentos finais, providenciados pelas
derradeiras – e quase épicas, eu diria – “Transylvanian Cry” e a título
“Walpurgisnacht”, que exploram novamente as notas de violão por alguns
instantes, além das nuances diversificadas.
No mais, chegamos ao final da audição com dúvidas acerca das
melodiosas e constantes guitarras herdadas do Heavy Metal, que acabam
esbarrando discretamente no repetitivo, pois sente-se uma espécie de desespero
da banda para mostrar esse lado Tradicional. Mas não é algo que prejudicou em
nada e fica apenas como o único ponto a ser observado pelos músicos, em um
registro que demorou demais a ser lançado.
Não perca mais tempo, e prestigie também esta
interessantíssima sonoridade do Elizabethan Walpurga!
Banda:
Leonardo Mal’lak Alcantara (vocal);
Breno Lira (guitarra e violão);
Erick Lira (guitarra);
Renato Matos (baixo e backing vocal);
Arthur Felipe Lira (bateria)
Faixas:
01. Exordium (Intro)
02. Vampyre
03. Clamitat Vox Sanguinis
04.
Infernorium
05. The
Serpent’s Eyes and the Horns of Crown
06.
Elizabethan Dark Moon
07. The
Canine Enchantment by the Phlebotomy (In the Jugular Streams)
08. Transylvanian Cry
09. Walpurgisnacht.
Por: Vitor Sobreira